5/20/2007

reclamações autenticadas.

Está certo que ninguém agüenta mais minhas palavras. Deixa estar: elas continuam sufocadas por mim. Mas nesse eu quero reclamar. Primeiro, eu já fui mais bonita e mais educada. Num tempo remoto, nem palavrões eu ousava. Dai, já tive amigos mais amigos, pais mais pais, irmã mais irmã. Até cachorra mais cachorra, coitada. Minhas fotos já foram melhores, mais coloridas e mais felizes; meus textos mais meus. Meu computar mais rápido, meu quarto mais limpo, minha cama mais quente. Metade dos meus cds foram beliscados e colocados em bolsos alheios, sem levar em consideração uns livros misteriosamente sinistros. Depois ainda me perguntam como vou, estou... Ai, eu respondo de maneira que eu gostaria e pretendo um dia estar, ir ou ficar. Por isso esse sorriso diário que insiste em aparecer no meu rosto. Não pensem que é falso, apenas é involuntário. Aliás, é como essa alegria que persiste e me faz cantar, dançar sozinha. Reclamo contra ela também porque já foi mais eficaz e mais contagiosa. Eu confesso: até gostava. Eu lembro da época em que ouvia Chico, só ouvia Roda Viva, só mesmo. Repetidamente, trilhões de vezes: isso eu tinha uns 10 anos, eu acho. E achava a música mais linda, por tudo. E mal sabia entender a letra, eu acho também. Porque se eu a entendesse antes, talvez nem soubesse a letra hoje, pela tristeza mesmo que a contém. E não? Agora, ouço Los, Chico ainda, Elis e tantos outros. E Roda Viva eu deixei pra lá. Nunca mais ela chegou. Entendi que nem eu sou viva, como poderia ouvir algo com esse nome? Só eu mesma para ir contra a corrente (conseguindo sempre resistir). Como toda inconstante, já pulei de problemas para músicas. Bela mudança. Mas não quero: vim para reclamar. Parece que tudo que tenho é pior. É assim com você também? Até meu chocolate é menor, mais amargo e com menos nozes. Minhas roupas somem, meus sapatos quebram. Sempre, sempre, sempre. Muito mais intenso do que com você, não duvide. E olha: o meu pessimisto é sempre o mais pessimista. Só a minha vida mesmo, do contra, que não é mais vida. A única menos que permanece comigo. É bom, deve ser. Assim eu vejo que ela até gosta de mim. Só não é mais, coitada. E leva a culpa de tudo por mim. Minoria é assim mesmo, amiga.

2 comentários:

Anônimo disse...

Você faz reclamações por encomenda? Ando querendo autenticar as minhas. Ou "a" minha. Uma só, mas incomoda...
Beijos

Unknown disse...

hahahahhaha...Mais uma vez, estamos juntas!!! Faço minhas todas as suas palavras, minha querida! E ainda acrescento algo:

Eu já fui melhor. Hoje em dia fico no "tento ser" e quando não sou, nem brigo, vem o riso triste da amargura que a vida espirra num dia frio. Eu já fui mais serena, mais pura, mais delicada...Eu já até "fui" sem ter medo de voltar. Hoje...ah! Melhor parar por aqui.
rs